11 novembro 2008

Janet Cardiff




Após ter apresentado o meu trabalho numa aula de projecto, surgiram opiniões, sugestões de colegas. Esta é uma delas.
Gostei bastante desta descoberta.
Assim partilho convosco:









03 novembro 2008

Canção despovoada

"Num tempo sentado em seda, uma mulher imersa cantava o paraíso. Era depois da morte. Num tempo: salsa, avencas dormindo. A infância tinha febre. Então a voz pronunciava lenços, pombas impressas. Arrefeciam pêras no silencio posterior aquele enigma. Porque tem sono a salsa? E o coração dos figos com a doçura oblíqua. Há quem morra para ser de um mês: vivem imóveis os jardins das vozes. Em sonhos de uma loucura clara, ligeiras casas voltavam as costas. Nasciam folhas de ouro se alguém, sorrindo, respirasse. O tempo tem a sua inclinação perigosa: país de uvas negras e varandas sobre a candura. Quando se toca, a infância queima. O paraíso tem uma noite ao fundo: treme. Há quem fique num mês para assistir ao ar. Terrível é o espaço da música e das glicínias paradas na atenção.
Quando uma voz diz a criança como seu espelho, este paraíso é de víboras azuis. Então veste-se um pulóver, anda-se pela cegueira com as mãos a ferver, diz-se: o vento, o sono e as violas. Há um crime segrado onde o mês aparece com. Digo: clareira. Velocidade do tempo, oh inteligência. Aparece com a altura de uma noite mortal. Quem se alimenta de fruta, quem se despe entre noites encostadas, pergunto, quem ama até perder o nome? Eles vêm devagar e põem cores onde a criança se voltava junto á morte. Azul cobalto para os anjos ciclistas anunciando a palavra, e amarelo para os braços abertos, e cíclame para ficar louco no espaço ao mesmo tempo. Ofereço-te um lírio- diz a canção sentada. Ah, um lírio é o que eu procuro nas ilhas tenebrosas. Por isso canta essa mulher, desvia para a inocência de um tempo- mês a respirar tão depressa, e a andar tanto, e a correr tão loucamente, que não há mais do que em voz em cadeira, num lugar do sono, à direita e à esquerda de uma ausência contra a espuma. Olha: eu queria saber em que parte se morre, para ter uma flor e com ela atravessar vozes leves e ardentes e crimes sem roupa. Existe nas ilhas um silêncio para a poeira tremer, e o teu rosto se voltar lentamente cheio de febre para o lado de uma canção."