16 dezembro 2008

"Os Gigantes da Montanha"

...ao ver esta peça de teatro que nos confronta entre o que somos e onde estamos, achei fantástica a relação com um excerto que anteriormente tinha encontrado em contos tradicionais. Assim deixo:

"Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos
Os gigões são diferentes dos anantes
porque uns são um bocado mais
outros são um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande
que não cabia. Em quê? o gigão era tão grande
que nem sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão
e esse então nem se sabia se ele cabia ou não.

Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar.
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar.
E nunca se sabia se estavam a mentir."



14 dezembro 2008

I.M.A.N.08



(continuação)PROTON

Na concepção desta construção, a preocupação é essencialmente funcional e todas as formas convergem para o melhor uso e empenho do barco. Dentro destas preocupações, o belo não é uma escolha prioritária mas, de qualquer forma, sempre presente.
Um origami que se vai montando em linhas, arestas, planos que se harmonizam entre/em si.
Aqui percebe-se todo um preparar de um Projecto que de vários pontos o comparo á Pintura. Pintura que cada vez mais se centra na matéria e não somente nos materiais.

04 dezembro 2008

PROTON

Pelas 14h30, no Cais Fluvial de Belém.
Uma pequena viagem de barco até à outra margem. Passamos uma pequena ponte, um cacelheiro. Leva passageiros todos os dias. De cá para lá, de lá para cá.
Entre inúmeros lugares decidimo-nos pelo ar livre e umas espreitadelas ao mar. E aí fomos nós, avistando o que deixavamos, entre conversas sobre pintura ou (e) Pintura e aquilo que iriamos ver, ouvir.
Já se avistava ESTALEIRO NAVAL, Porto Brandão.
Deixámos o grande barco para ir ver um que à medida que a conversa se desenrolava se tornava cada vez maior.
Assim entrámos onde se dizia CUIDADO COM O CÃO. E realmente, que cão grande, não se cansava de ladrar mas lá foi apaziguado pelo Sr. Rui, um dos TRÊS, que nos acompanhou até à tão esperada construção.
Entre barcos, barquinhos e barcões, ali estávamos nós diante do tão falado PROTON.
Numa entrevista que se tornou logo uma conversa, interrogávamos e encontrávamos afinidades no que poderiamos designar uma obra de arte.
OBRA DE ARTE! Nome grande...que logo de principio decido repartir, como se faz com um bolo de chocolate enorme, para que não nos dê a gula e nos faça subir os açucares até mais não.
Bom...voltando ao grande nome, que divido em: ideia(s), vontade(s), intenção(ões), experiência(s), estética, função(sim porque isto da funcionalidade não é só para o design), concretização, absorção(ões)/paixões constantes. Coloco-as por uma (esta) ordem mas correndo o risco de quase sempre ser extrapolada, remisturada (remix dos tempos que correm).
Começando pela ideia, ela surgiu pelo engenheiro naval Eduardo Mendes Dias, que quando expôs aos seus amigos, Rui Prazeres ( engenheiro mecânico) e Rui Mendes Santos (arquitecto), a vontade e intenção espoletaram de imediato.
Aqui estão os TRÊS! E atenção só 3!
Começa assim a história de PROTON, que antes de se transformar na concretização de um barco para servir de transporte de pesca, de mercadorias várias, turismo... se desenrola por inúmeras experiências.
Chegámos à conceptualidade estética. E pergunta-se: "que preocupação estética (se é que houve) teve?"
(mas disto falo no seguinte post, porque já vai longo o texto...Peço desculpa mas finalmente começo a ter alguma familiaridade com este tipo de meios. Inicialmente chegava aqui e as palavras não conseguiam, de todo, fluir).

11 novembro 2008

Janet Cardiff




Após ter apresentado o meu trabalho numa aula de projecto, surgiram opiniões, sugestões de colegas. Esta é uma delas.
Gostei bastante desta descoberta.
Assim partilho convosco:









03 novembro 2008

Canção despovoada

"Num tempo sentado em seda, uma mulher imersa cantava o paraíso. Era depois da morte. Num tempo: salsa, avencas dormindo. A infância tinha febre. Então a voz pronunciava lenços, pombas impressas. Arrefeciam pêras no silencio posterior aquele enigma. Porque tem sono a salsa? E o coração dos figos com a doçura oblíqua. Há quem morra para ser de um mês: vivem imóveis os jardins das vozes. Em sonhos de uma loucura clara, ligeiras casas voltavam as costas. Nasciam folhas de ouro se alguém, sorrindo, respirasse. O tempo tem a sua inclinação perigosa: país de uvas negras e varandas sobre a candura. Quando se toca, a infância queima. O paraíso tem uma noite ao fundo: treme. Há quem fique num mês para assistir ao ar. Terrível é o espaço da música e das glicínias paradas na atenção.
Quando uma voz diz a criança como seu espelho, este paraíso é de víboras azuis. Então veste-se um pulóver, anda-se pela cegueira com as mãos a ferver, diz-se: o vento, o sono e as violas. Há um crime segrado onde o mês aparece com. Digo: clareira. Velocidade do tempo, oh inteligência. Aparece com a altura de uma noite mortal. Quem se alimenta de fruta, quem se despe entre noites encostadas, pergunto, quem ama até perder o nome? Eles vêm devagar e põem cores onde a criança se voltava junto á morte. Azul cobalto para os anjos ciclistas anunciando a palavra, e amarelo para os braços abertos, e cíclame para ficar louco no espaço ao mesmo tempo. Ofereço-te um lírio- diz a canção sentada. Ah, um lírio é o que eu procuro nas ilhas tenebrosas. Por isso canta essa mulher, desvia para a inocência de um tempo- mês a respirar tão depressa, e a andar tanto, e a correr tão loucamente, que não há mais do que em voz em cadeira, num lugar do sono, à direita e à esquerda de uma ausência contra a espuma. Olha: eu queria saber em que parte se morre, para ter uma flor e com ela atravessar vozes leves e ardentes e crimes sem roupa. Existe nas ilhas um silêncio para a poeira tremer, e o teu rosto se voltar lentamente cheio de febre para o lado de uma canção."

31 outubro 2008

Peter Zumthor

Depois de ficar deslumbrada com a exposição do arquitecto Peter Zumthor achei essencial partilhar convosco este gosto que nos deixa silenciosos.(exposição patente na LX Factory até 2 de Novembro)
Foi dificil escolher um projecto...mas...aqui vai:

30 outubro 2008

onde fica o meu lugar !?!

Ao longo do processo de desenvolvimento, a importância dada à diversidade de locais onde instalo os meus projectos é fulcral. Trabalhos que se baseiam na arquitectura, no modo como ela se pode relacionar com o nosso corpo, com a luz. Um corpo que existe no presente, sendo suporte da sua experiência de sujeito – o seu passado, e de objecto preparado para o espaço social – o seu futuro.
Em contacto com os objectos do mundo e a sua diferenciação, torna-o sujeito, humano capaz de conhecer e se reconhecer no mundo.
O pó de grafite é o meio para este encontro, com ele inscrevo fragmentos de desenhos em estruturas arquitectónicas, que aproximam o ser humano aos limites da arquitectura.
Cada desenho que instalo parte desse próprio lugar, das marcas que ficam, ou de marcas que eu próprio construo. Instalações efémeras que provêem do próprio habitar.
Actualmente desenvolvo também instalações/pinturas sonoras em que insiro as mesma questões e preocupações de relação corpo-espaço.
Para além da impulsão sensível, existe uma actividade mental, que não pode conceber-se sem a intervenção do factor tempo, implicando assim, a intervenção da memória – não histórica mas activada fenomenologicamente. Por mais que seja importante o tempo, essa percepção espacial implica um lugar, uma configuração, a causalidade – o espaço.
Não é uma procura de representação da estrutura da natureza mas da estrutura do espírito perante a natureza, mostrando um possível, escolhas e não uma certeza.
Como poderia a linguagem copiar os factos?
(…) «E contudo essas linguagens simbólicas provam ser, mesmo no sentido vulgar, imagens daquilo que representam.» (TLF.011, Wittgenstein)